Olhando meu email, encontrei esse texto de 31/03/2008, endereçado a Anya. No dia em que escrevi, tudo fazia sentido. Agora, nem tanto.
"A capacidade de adaptação é uma qualidade inerente à praticamente todos os seres vivos, porém, quando analisada sob o prisma da raça humana, em especial associação com a dinâmica social, merece minucioso estudo. Afirmar que o "preconceito contra o negro na sociedade brasileira tem diminuido bastante, e que a valorização do ator Lázaro Ramos é um exemplo que comprova esse fato" seria no mínimo ingenuidade, se não fosse uma idílica construção que tem por meta a amenização de um problema real, por intermédio de uma premissa equivocada. O preconceito jamais poderia ser analisado de uma forma genérica, pois é um conglomerado de sentimentos esquálidos, sentimentos estes que abrangem diferentes aspectos em relação ao negro. Compreender que a indiferença sentimental é a nova face do preconceito no tão aclamado e já cansativo mundo globalizado, é a chave para entender que o preconceito na sociedade brasileira não diminuiu. O cenário nacional repleto de favelas, a existência de moradores de rua (em sua maioria negros), a disparidade salarial (mesmo com igual formação acadêmica), a política de cotas em emissoras de televisão e em universidades, são fatores que emanam de um conceito prévio que diz "sempre foi assim, não tem como mudar, é função do estado, pagam-se impostos para isso". Como natural consequência desse conceito prévio, tem-se o estabelecimento da indiferença e a criação de um ciclo vicioso cenário-conceito prévio-indiferença-cenário. Entender preconceito como aversão ao negro é um caminho profícuo para todos que desejam eximir-se de responsabilidades sociais. Preconceito é acima de tudo a ausência de atitudes que gerem mudanças, não deve ser entendido como pessimismo, e, neste momento do texto, o eu-lírico gostaria de deixar claro que este escrito é uma forma de preconceito, uma inutilidade completa, pois enquanto o problema for discutido de forma filosófica, mudanças práticas não serão alcançadas."
